Pesquisas de Opinião: Expectativa vs. Realidade

Publicado em: Comunicados Data de criação: 2022-06-03 Visualizações: 514 Comentários: 0

Artigo publicado na seção Comentário do volume PR1130. Observação: este artigo foi veiculado também nos volumes 1841 e 2715 de Perry Rhodan.

Ao longo da sua trajetória, a edição brasileira de Perry Rhodan mantida pela SSPG Editora passou por diversas mudanças, e, desde os seus primeiros anos, a editora tomou como diretriz orientar essas mudanças com base na opinião manifestada pelos próprios leitores da edição. Assim, além de uma maior interação e engajamento dos fãs que acompanham a edição, buscava-se uma eficácia maior em termos da aceitação dessas mudanças junto aos leitores, o que contribuiria para uma probabilidade maior de sucesso e segurança para a manutenção do projeto da edição.

Dessa forma, pesquisas de opinião foram promovidas em momentos nos quais se planejava a adoção de mudanças, apresentando aos leitores as alternativas em relação a alterações de formato, periodicidade ou novos lançamentos, bem como, em casos específicos, a visão particular de cada leitor acerca de aspectos correntes da publicação. Com essa iniciativa, chegou-se a marcos importantes na história da edição, como a adoção da periodicidade quinzenal em 2003, a partir do volume duplo nº 700/701, e a adoção do formato digital para a retomada da publicação em 2014.

Naturalmente, ao se tratar de pesquisas, lida-se com a mera intenção dos participantes, e a participação dos leitores nunca foi colocada pela SSPG com um caráter vinculativo ou de compromisso obrigatório em relação ao efetivo cumprimento por parte de cada participante de seu voto manifestado na pesquisa a respeito de uma pretensão de aquisição de uma determinada alternativa de lançamento de novo ciclo ou série, ou ao acompanhamento assíduo de uma nova periodicidade, por exemplo. Essa postura tinha sua contrapartida no fato de que os resultados da pesquisa não seriam absolutamente mandatórios para a SSPG, mas sim teriam um caráter de apoiar o processo decisório da editora, ainda que com grande prioridade.

Com esse aspecto em vista, embora os resultados tenham sido em geral bem-sucedidos — em especial, o já citado da edição digital —, a partir de um determinado ponto, a SSPG passou a observar que, infelizmente, em termos de vendas, os desfechos práticos das mudanças implantadas com base nos resultados das pesquisas não se aproximaram do retrato obtido na pesquisa correspondente. Em outros termos mais diretos: em algumas pesquisas recentes, boa parte dos leitores infelizmente veio a não cumprir aquilo que havia manifestado em sua participação.

O primeiro caso mais notável desse tipo de discordância entre a manifestação, digamos, teórica e a execução prática se deu na pesquisa de 2017/2018, na qual os leitores mostraram seu interesse principal em ter uma edição da série Atlan, com 84 votos, perfazendo 38% do total de participantes. Essa quantidade já era baixa para viabilizar a produção da edição, conforme a SSPG mencionou na época, mas, mesmo assim, a editora decidiu produzir a edição. Porém, algum tempo após o lançamento dos primeiros volumes da nova série, numa análise mais detida, a editora constatou que apenas pouco mais da metade desses manifestantes estava de fato comprando a edição, e ela só se manteve porque boa parte dos compradores era de leitores que não haviam optado por Atlan ou nem mesmo participado da pesquisa como um todo. Ainda assim, o baixo patamar de vendas, que não cobria sequer os custos de tradução, levou a editora à decisão de alterar a periodicidade da série, passando-a primeiramente para bimestral e mais adiante para trimestral, num esforço alternativo para evitar o cancelamento da edição. Felizmente, esse ritmo mais espaçado permitiu que o patamar de vendas melhorasse devido ao reforço na aquisição de volumes atrasados. Assim, hoje, embora as vendas de Atlan não sejam confortáveis (o faturamento da edição dessa série como um todo apenas paga de forma flutuante seus custos de tradução, sem contribuir para diluir outros custos da editora), a SSPG opta por mantê-la em consideração aos leitores que se esforçam para acompanhá-la e por entender que um cancelamento seria prejudicial ao projeto da edição como um todo.

No caso das duas pesquisas subsequentes, os resultados foram mistos. A concluída em setembro de 2018, que embasou o lançamento do 27º ciclo, a partir do nº 1800, teve 153 leitores dispostos a adquirir essa nova frente de publicação. Atualmente, porém, a venda média dessa frente é de 110 exemplares, levando em conta as edições digital, impressa, assinaturas e números atrasados do ciclo em relação ao número de lançamentos feitos. Já no caso da pesquisa concluída em maio de 2020, que subsidiou a decisão da editora de lançar em conjunto os ciclos a partir dos nºs 2700 e 3000, houve 73 e 78 votos combinados respectivamente para cada um desses ciclos — números também inviáveis para uma edição, mas que, na avaliação de um contexto maior pela editora, manifestada na divulgação dos resultados, poderiam ser tomados como base para um patamar mais elevado de vendas. E, de fato, esses patamares estão atualmente na média de 118 exemplares para o 38º e 122 para o 42º ciclo, pouco acima do 27º ciclo.

A última pesquisa promovida pela SSPG, no entanto, traz o caso mais destoante na visão da editora. Essa pesquisa, finalizada em outubro de 2020, aferiu o interesse dos leitores por uma edição impressa de volumes especiais da série. Na tabela a seguir, trazemos uma comparação entre a quantidade de votos favoráveis à edição impressa de cada volume considerado na pesquisa e a quantidade total de exemplares impressos vendidos desse volume:

 

Volume

Votos na pesquisa

Exemplares vendidos

Compradores pós-pesquisa

1

106

105

41

1000

125

71

9

1800

105

41

3

3000

138

117

21

 

 

Note-se bem que, com exceção do nº 1, os volumes especiais tiveram vendas bem abaixo do “prometido” na pesquisa, mesmo após vários meses passados desde seus lançamentos. Em especial, a diferença entre adesão na pesquisa e compra efetiva foi gritante no caso dos volumes 1000 e 1800 — nesse último caso, a “taxa de desistência” foi de cerca de 60%.

Mesmo a venda praticamente idêntica ao resultado da pesquisa para o nº 1 não mostra um cenário favorável ao cumprimento do resultado da pesquisa, já que, desses 105 exemplares vendidos, houve o caso de um leitor que adquiriu sozinho 10 exemplares do livro “Missão Stardust”. Além disso, deve-se levar em conta o levantamento da editora mostrado na última coluna, que é o subconjunto (dentro do total de exemplares vendidos mostrado na 3ª coluna) de leitores que se inscreveram no site após a finalização da pesquisa, ou seja, que não participaram dela. Desse modo, esse aspecto adicional contribui para reduzir mais ainda a taxa de “cumprimento” efetivo da adesão ao escopo da pesquisa. No caso do nº 1, isso resulta em uma quantidade de participantes da pesquisa que efetivamente compraram equivalente a no máximo 55 exemplares — cerca de metade do total das vendas.

Outro aspecto nessa pesquisa é em relação à edição impressa do 1º ciclo, a qual 65 participantes se mostraram dispostos a adquirir. No entanto, o quadro de vendas de todos os volumes desse ciclo já efetivamente publicados até o início de junho de 2022 é o seguinte:

 

Volume

Exemplares vendidos

PR01 - Missão Stardust (Impresso)

105

PR02 - A Terceira Potência (Impresso)

38

PR03 - A Abóbada Energética (Impresso)

32

PR04 - O Crepúsculo dos Deuses (Impresso)

23

PR05 - Alarme Galáctico (Impresso)

21

PR06 - O Exército de Mutantes (Impresso)

14

 

 

Aqui, nota-se a forte tendência de decrescimento das vendas com o passar do tempo — um padrão que é observado em todos os volumes da editora, inclusive na edição digital. Como ilustração, basta lembrar que, na pesquisa de 2013 sobre a edição digital, 251 leitores cravaram que a comprariam “com certeza”, e 112, “provavelmente sim” (as expressões entre aspas eram literalmente as alternativas da pesquisa). Compare-se isso com os números atuais, em que cada frente de publicação não vende mais que cerca de 120 exemplares. É natural que boa parte dos leitores não consiga acompanhar o ritmo de lançamento de 8 episódios por mês, mas, confrontando com uma expectativa inicial de, digamos, 300 leitores da edição digital, o resultado atual é muito baixo.

Para detalhes sobre os resultados de todas essas pesquisas citadas, pode-se consultar a seção de Notas no site da SSPG ou os artigos publicados nos volumes 852, 932, 952, 1034 e 1054.

Voltando aos resultados da edição impressa do 1º ciclo, o que chama bastante a atenção é, mais uma vez, a diferença larga entre o resultado da pesquisa e os números em si: mesmo para o número 2, já lançado há mais de 7 meses (em outubro de 2021), as vendas correspondem a apenas pouco mais da metade dos participantes favoráveis da pesquisa.

Neste ponto, é inevitável ponderar sobre as causas para que tantos leitores não cumpram aquilo que manifestaram no seu voto da pesquisa de opinião. Certamente, a questão do preço da edição não pode ser aventada como explicação. Na divulgação inicial da pesquisa de opinião da edição impressa, por exemplo, a SSPG chamou a atenção para o fato de que a edição teria um preço alto devido à baixa adesão esperada, e, de fato, o preço praticado atualmente está dentro do patamar informado pela editora na ocasião. O cenário econômico atual do país pode ter impacto nisso, mas vale lembrar que a pesquisa da edição impressa foi feita já em pleno cenário da pandemia, quando a situação econômica não podia ser chamada de favorável.

A manutenção de várias frentes de publicação em paralelo, que supostamente poderia levar a um desestímulo ao acompanhamento de tantos ciclos diferentes por uma parte dos leitores, também é inadequada para explicar essa situação. Basta citar que, em comparação com os números médios de venda dos ciclos adicionais, já citados, a frente de publicação principal da editora (correspondente atualmente ao 17º ciclo) tem atualmente uma média de 120 exemplares vendidos em relação aos lançamentos do 17º ciclo, ou seja, no mesmo patamar dos demais ciclos. Se houvesse esse desestímulo, o patamar do 17º ciclo seria bem maior.

A suposta falta de divulgação da série também não cabe para justificar esse quadro. Afinal, estamos comparando a realidade atual apenas com um grupo de pessoas que já conhece plenamente a edição da SSPG — sem contar também que há um grupo ainda maior que o de participantes da pesquisa que já é contatado regularmente pela editora por diversos canais e que simplesmente não se manifesta. Ou seja, não estamos falando de vendas baixas devido à falta de “novos leitores”. Mesmo os leitores de longa data têm se afastado da edição — seja por desinteresse puro e simples, seja até mesmo por falecimento ou condições desfavoráveis de saúde, ou pela abjeta e injustificável prática da pirataria, tanto já mencionada e combatida pela editora. Somente cada leitor que agora acompanha esse texto e se reconhece inserido na categoria dos que não efetivaram concretamente seu voto da pesquisa é que poderá ter uma ideia das causas com base em sua circunstância pessoal. À SSPG, que não aventa a possibilidade de fazer uma “pesquisa sobre o resultado negativo da pesquisa” em relação a esses leitores “desistentes”, resta colher as lições desses eventos e se ajustar a eles.

Sim, porque ajustes precisam ser feitos diante desses acontecimentos. O mais significativo deles diz respeito à edição impressa. Vale a pena ressaltar que esse cenário de baixas vendas da edição impressa do 1º ciclo se estende também aos demais ciclos (que não estavam previstos na pesquisa original e sobre os quais, desse modo, a editora não tem condições de fazer análises de cenário). No caso da frente do 17º ciclo, por exemplo, nenhum volume após o PR1110 (lançado em janeiro de 2022, ou seja, já disponível há 5 meses) vendeu mais de 10 (dez) exemplares. O mesmo vale para todos os volumes do 27º ciclo (exceto o PR1800, claro) e os volumes após o PR2711 no 38º ciclo. O 42º ciclo possui um patamar ligeiramente mais positivo, mas ainda bem baixo, com vendas abaixo de 20 exemplares impressos a partir do PR3008. E note-se que esses números nem são novidade, pois essa situação foi citada no prefácio editorial do volume de jubileu nº 1100.

Vale lançar também o questionamento sobre quantas editoras no nosso país julgariam válido manter uma edição impressa com vendas nesses patamares minúsculos. A SSPG só mantém a edição impressa nessas circunstâncias em consideração aos leitores que bravamente se esforçam para adquirir os volumes. E, é claro, devido ao providencial modelo de impressão sob demanda e baixa tiragem adotado pela editora. Mesmo esse modelo, porém, tem seus limites, e, considerando que a estimativa de preço dos volumes impressos foi feita levando em conta uma venda de apenas metade do resultado efetivo da pesquisa (uma providência cautelosa da SSPG que se mostrou bem salutar), e o resultado concreto foi mais abismal ainda, infelizmente deverá ser necessário fazer reajustes de preços maiores que o desejado em relação aos níveis recentes da inflação, para que a edição não se torne marcantemente deficitária.

Reajustes de preços maiores que a inflação não são a única consequência de cenários de venda bem destoantes do resultado de uma pesquisa. Embora o mais drástico deles, que seria o cancelamento de alguma frente ou formato de publicação, não esteja nas perspectivas atuais da editora, um agravamento dessa tendência poderá levar de fato a medidas indesejadas, como a desaceleração do ritmo de publicação, como ocorreu com a série Atlan. Além disso, tal cenário desestimula fortemente expansões futuras da edição, seja na forma de aumento do ritmo de publicação de alguma frente, seja no lançamento de outras séries e/ou produtos derivados de Perry Rhodan. E haveria muito espaço para tais movimentos, como pode ser visto pelas sugestões a seguir, algumas das quais já foram solicitadas pelos próprios leitores em mensagens à SSPG:

 

– Lançamento de edição impressa a partir do nº 537.

– Lançamento de nova edição impressa a partir do nº 650 (em especial, dos volumes esgotados).

– Lançamento de edição impressa a partir do nº 1001.

– Lançamento de edição impressa da série Atlan.

– Lançamento da série Perry Rhodan Neo.

– Lançamento da série dos “romances planetários”.

 

Todas elas seriam novidades de interesse da editora, mas que esbarram no cenário atual de vendas apresentado. Um faturamento que apenas cobre os custos de produção não deixa espaço para que investimentos sejam feitos em termos de equipe, permitindo a dedicação a alguma das sugestões listadas acima, por exemplo. Por sinal, com os números já citados aqui de patamares de venda, vale destacar que a edição só é viável por dois aspectos: o apoio das vendas de números atrasados (dos ciclos já concluídos) e as traduções assumidas por este editor, uma tarefa que ajuda a reduzir os custos, mas impede uma dedicação maior a outras possíveis iniciativas na série.

Além disso, a dissonância entre as pesquisas e a realidade não deixa de trazer uma lamentável descrença na veiculação de futuras pesquisas. Mesmo que a SSPG tivesse condições de investir em alguma das iniciativas listadas acima e fizesse uma pesquisa sobre a preferência dos leitores acerca delas, até que ponto esse resultado poderia ser tomado como confiável? Infelizmente, um instrumento que já se mostrou tão significativo em iniciativas anteriores se mostra agora duvidoso diante dos reveses apresentados nos últimos casos (em especial, o de Atlan, que levou a impactos concretos diante da realidade discordante).

No entanto, a SSPG não pretende demonstrar aqui pessimismo, perda de interesse ou de confiança no projeto da série como um todo. Em especial, as atitudes de muitos leitores engajados, que adquirem em dia seus volumes, acompanham todas as frentes de publicação, efetuam suas assinaturas integrais e até adquirem as duas versões (digital e impressa) de todos os volumes, são mostras de que há espaço para um novo fortalecimento de Perry Rhodan no Brasil. A esses leitores especialmente dedicados, a editora manifesta, como em outras ocasiões, seu agradecimento reconhecido — deixando claro também que sabe que a realidade financeira desfavorável de muitos outros pode ser um empecilho para aquisições mais amplas.

Por fim, para quem está atrasado no ritmo de lançamentos ou que ainda não está acompanhando ou colecionando todas as frentes de publicação, ou para aqueles que se manifestaram na pesquisa de opinião e não concretizaram seu voto manifestado nela, conclamamos a que renovem seu gesto de apreço pela série e incrementem sua coleção e sua leitura com os volumes ainda não adquiridos, no melhor ritmo que for possível e pelos devidos canais de aquisição da SSPG. Afinal, é fundamental que todo leitor tenha a consciência de que a situação de Perry Rhodan não é a mesma de uma publicação regular de uma grande editora. Trabalhamos com um produto de nicho, pouco conhecido, e o engajamento dos fãs sempre foi preponderante para que o projeto da série tenha superado muitas dificuldades, passado por tantos marcos importantes e chegado ao ponto em que está atualmente, com quase 700 episódios já lançados pela SSPG. E o mais importante, que essa consciência desperte enquanto há tempo — inclusive em relação à eventual pirataria da edição digital da série, sobre a qual, após tantas menções e apelos já feitos, nos limitamos agora a repetir o que foi dito no prefácio dos volumes 1040 e 623 justamente sobre esse assunto: “Caso os rumos atuais de estabilidade do projeto mudem drasticamente para pior, à revelia dos esforços e intenções da SSPG, e a falta de visão e de consciência de uma parcela de leitores desavisados ou gananciosos acabe matando a galinha dos ovos de ouro (num sentido que transcende em muito o mero aspecto financeiro), não adiantará depois reclamar, criticar e condenar a editora.”

 

Rodrigo de Lélis é editor e coordenador geral da edição brasileira da série Perry Rhodan.

Revisão de César Augusto F. Maciel.

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