Recentemente, no final de julho de 2024, a edição brasileira de Perry Rhodan completou 10 anos de lançamento na sua nova fase em formato digital. Surgida após o hiato de 2007 a 2014 criado pela necessidade de encerramento da primeira edição impressa da SSPG, essa nova edição digital foi fruto não apenas dos esforços da editora, que, no período do hiato, não abandonou a disposição e as iniciativas para uma retomada — mas fruto também dos fãs engajados, que valorosamente encamparam esse novo projeto e aderiram a ele com entusiasmo.
Nesse período da fase digital, foram mais de 660 novos lançamentos de Perry Rhodan e Atlan, que, somados aos 198 episódios lançados na primeira edição impressa da SSPG de 2001 a 2007 (ou seja, mais de 860 histórias trazidas ao todo até o momento para os leitores brasileiros), constituem um vasto acervo para a apreciação e deleite dos aficionados por este fantástico universo de aventuras e enredos fascinantes. Mas não só a quantidade de lançamentos oferece motivos para celebração: nesse período, vieram aumentos no ritmo de publicação, e novas frentes de publicação foram abertas, permitindo aos leitores conhecerem os diferentes contextos, estilos narrativos e conduções das tramas das fases mais atuais da série na Alemanha. E, além disso, veio também a nova edição impressa, a partir de 2021, atendendo à demanda daqueles que porventura não se adequam ao formato digital ou mesmo desejam apreciar e colecionar a série nesses dois formatos em conjunto.
Porém, como a SSPG já frisou em ocasiões pregressas, nem só por motivos de festejos a trajetória do projeto da editora é marcada. Reveses também fazem parte dessa caminhada. Devido ao baixo volume de compras por parte dos leitores, a editora foi obrigada a reduzir o ritmo de frequência dos lançamentos em duas ocasiões: uma vez com a série Atlan, que começou mensal e hoje é trimestral, e outra vez com todas as frentes, baixando de 8 para 6 a quantidade de publicações ao mês em 2023.
Esses reveses são reflexo de uma característica que a SSPG infelizmente é obrigada a colocar em cena, ainda que ciente de que possa ser motivo de discordância para alguns fãs: apesar do volume vigoroso de lançamentos, o projeto da série no Brasil é marcado pelo desinteresse da maioria de seus leitores. Infelizmente, apenas uma pequena parcela dos que conhecem a série e já leram ao menos um volume dela têm interesse, disposição ou condições de adquirir os volumes — o que leva ao histórico cenário de vendas reduzidas. Para que isso não seja visto como uma mera opinião da editora, há números que podem ilustrar essa colocação: de 2014 para cá, um total de 1.109 pessoas adquiriram em algum momento um volume digital ou impresso da edição da SSPG. Porém, nos últimos 12 meses, apenas 341 pessoas tiveram essa iniciativa. A grande questão que surge assim é: onde foram parar as mais de 760 pessoas que deixaram de comprar a edição ao longo dos 9 anos anteriores? O que as motivou a colocar de lado a leitura da série? Naturalmente, uma fração desses abandonos pode ser creditada a casos naturais de falecimentos ou a problemas de saúde ou idade avançada, mas não a ponto de justificar tamanha desproporção na faixa de compradores.
Também não se justifica que muitos poderiam adquirir a série apenas em grandes intervalos de tempo para fazer compras mais vultosas de pacotes de ciclos com desconto. Pois bem: mesmo se expandirmos o período para os últimos 24 meses, a quantidade de compradores chega a apenas 466. Ainda menos da metade de todos que já compraram alguma vez. E não é um padrão observado pela editora o fato de que uma quantidade significativa de leitores só faça compras a cada 2 anos ou mais. Se alguém só adquire uma série periódica em intervalos de mais de 2 anos, ainda mais sabendo da necessidade de sua editora de ter um acompanhamento mais regular dos leitores, fica aqui o questionamento sobre o efetivo grau de interesse por ela.
Por sinal, esses números não significam que a SSPG venda 300 ou 400 exemplares de cada episódio lançado. É preciso considerar que boa parte dos leitores compra ainda volumes que já foram lançados há muitos anos, por terem começado sua leitura bem depois do começo do projeto digital, o que é perfeitamente natural e esperado. Além disso, infelizmente, há muitos que não adquirem todas as frentes de publicação, o que é lamentável do ponto de vista de oportunidades não aproveitadas para ajudar a sustentar melhor a edição. Para ter uma ideia, nos últimos 6 meses, os volumes lançados nesse período não venderam mais que 109 exemplares cada nos dois formatos — e esse é o número do episódio recente que mais vendeu, não uma média. Ou seja, é muito baixa a taxa de leitores que acompanham em dia os lançamentos da edição. Se considerarmos que a produção da edição é sustentada por todos os volumes vendidos num dado mês, sejam antigos, sejam recentes, a média de vendas englobando todos os episódios novos e antigos fica num patamar de 170 volumes para cada lançamento produzido.
Um outro dado comparativo que se deixa aqui a título de reflexão pessoal a cada um: a página oficial da edição da SSPG Editora no Facebook possui no momento 997 seguidores. É uma desproporção imensa em relação à quantidade de compradores regulares. O questionamento então é inevitável: por que tantas pessoas seguem a editora numa rede social e não têm a iniciativa de adquirir os volumes da série? Afinal, em tese, seguir uma página denotaria interesse significativo pelo tema dessa página. Por que então esse interesse não se traduz em engajamento suficiente para a ação prática de adquirir e ler regularmente os volumes da série?
Essas constatações levam possivelmente à derrubada de uma ideia enganosa sobre o contexto do projeto da série: a de que, para mudar o cenário de baixas vendas, seria imprescindível divulgar maciçamente a série para conquistar novos leitores. Pelo quadro exposto aqui, vemos que somente os conhecedores atuais da série já seriam mais que suficientes para colocar o projeto da série num patamar confortável de estabilidade. Pelos cálculos da SSPG, se apenas 25% dos cerca de 640 leitores que pararam de adquirir a edição nos últimos 2 anos voltassem a adquiri-la regularmente (e os atuais compradores também se mantivessem, claro), não seria mais necessário voltar a alertar os leitores, como nesta ocasião se faz, sobre baixas vendas. Apenas 25%. De quem já comprou a edição da SSPG.
Claro que isso não quer dizer que não seja necessário conquistar novos leitores. Esse passo sempre foi e será visto como importante para a editora. Por sinal, novos clientes sempre surgiram em todo esse período, o que contribuiu para reduzir parte do impacto daqueles que abandonaram o acompanhamento regular da edição ao longo desse período de dez anos. Por isso é que a editora mantém suas iniciativas de divulgação, com, entre outras, a presença nas redes sociais e a participação em eventos da área de ficção científica — embora esses tenham escasseado bastante durante e após a pandemia de covid.
Naturalmente que há tentativas da editora de “reconquista” desses leitores que deixaram de acompanhar a série, inclusive com o incentivo de ofertas promocionais. Porém, aqui surge mais um aspecto a lamentar e que reforça a impressão de desinteresse de boa parcela dos leitores. No envio de e-mails promocionais, por exemplo, podemos constatar, com as ferramentas de apoio utilizadas nessas campanhas, uma elevada ocorrência de destinatários que recebem e abrem as mensagens — e nada mais fazem. Ou seja, muitos desses leitores “perdidos” estão cientes da edição, têm recebido comunicados da editora, inclusive com condições propícias para voltar a adquirir seus volumes — e nada fazem.
Falar em puro desinteresse pode ser visto como injusto por alguns, tendo em vista que muitos dos leitores não regulares podem estar apenas sem condições financeiras ou pessoais, pelos mais diversos motivos, para comprar volumes da série. Isso pode muito bem ser verdade em alguns casos, de fato. Mas deixamos aqui alguns questionamentos, mais uma vez para reflexão pessoal de cada um. Para os que passam por algum nível de dificuldade em suas finanças, será que o interesse pela série não seria alto o suficiente para dispender o esforço de aquisição de ao menos um volume digital por mês? Para os que alegam a falta de tempo para leitura, não seria válido considerar a relevância de, mesmo assim, adquirir os volumes para ir colecionando-os para o momento em que puder retomar sua leitura, e, com isso, ao menos ajudar a editora a mantê-la no nosso país? E para os que porventura reclamam de que os volumes são caros demais — algo subjetivo e de caráter pessoal, em todo caso —, deixamos o esclarecimento de que a editora não pode fugir do necessário rateio dos custos de produção — que já são bem baixos, dada a estrutura enxuta adotada pela SSPG nesses anos todos — pelos leitores que efetivamente honram seu compromisso de fãs e fazem suas compras regulares. Ou seja, somente o crescimento significativo da base de compradores poderá trazer condições de redução nos preços, pois não é interesse da SSPG “faturar alto” às custas dos leitores nem cobrar mais que o necessário pelos volumes.
Por sinal, os compradores atuais e regulares também podem fazer sua parte — não só com sua divulgação pessoal a conhecidos que sejam apreciadores de FC. Referenciando agora aqueles que não acompanham todas as frentes de lançamento atuais, seria importante se passassem a adquiri-las em sua totalidade, mesmo que apenas para fins de coleção e leitura bem mais à frente — afinal, isso teria um resultado do ponto de vista prático, com a satisfação de saber que está contribuindo ao máximo para a permanência da série no Brasil. E aos que estão ainda num ponto mais antigo da sequência de volumes em suas frentes, convidamos a reforçarem suas compras e adquirirem mais volumes e pacotes, ainda que essas compras tornem-se mais adiantadas que seu ritmo de leitura.
E quanto àqueles que porventura estejam aproveitando indevidamente a leitura dos volumes sem adquiri-los junto à SSPG, mais uma vez os convidamos a um franco exame de consciência, de avaliação de sua retidão pessoal ao optar por essa atitude mesquinha, de baixo caráter e mesmo criminosa, e que, para além de qualquer julgamento moral ou legal, definitivamente só contribui para que aumentem as chances de novos reveses para a série no Brasil. É isso de fato que um fã dedicado da série quer?
Fazemos todas essas sugestões e apelos porque, como já reiteramos em outras oportunidades, continua a pairar o risco da necessidade de reduzir mais uma vez o ritmo dos lançamentos, na ausência de uma melhora nesse quadro do projeto. No mínimo, novas expansões na linha dos lançamentos, seja em termos de ritmo, seja em novidades de séries derivadas, ficam impedidas nesse cenário. Aqui neste texto, falamos muito de reflexão, mas, mais que a reflexão, é preciso ação positiva e firme da parte de cada um. Para quem hoje se contenta em apenas ver pelas redes sociais a edição ser lançada, ou em deixar para depois uma compra e uma provável retomada de sua leitura, ou mesmo em dar risada consigo mesmo ao ler “de graça” um volume da série, enfatizamos que, um dia, sua falta de ação poderá se deparar com a lamentável ausência da série com a qualidade e conveniência oferecidas pela SSPG. A rigor, a editora não tem a intenção de um cancelamento, mas somente o engajamento dos leitores poderá evitar que uma crescente pressão das circunstâncias negativas acabe se tornando mais forte que a vontade e os esforços dos editores.
É uma pena que, numa ocasião como a de celebração por dez anos da nova fase da edição brasileira, tenhamos que dedicar tanto do espaço desse assunto a um aspecto problemático para a edição. Porém, isso é feito com o senso de responsabilidade e necessidade para que, nos próximos dez anos, possamos citar mais um marco alcançado pela editora e pelos leitores engajados exclusivamente com comemorações, menções positivas e agradecimentos, frutos da união de todos os fãs em prol da presença regular da série no nosso país.
Belo Horizonte, agosto de 2024
Rodrigo de Lélis
Editor – Publicações Perry Rhodan
SSPG Editora
Faça um comentário